sexta-feira, 31 de agosto de 2018

A Revolução pelo Cartum


A Revolução pelo Cartum


Certa vez, o grande chargista Otávio conseguiu a ira dos católicos quando satirizou a ida do time do Santos à Basílica de Aparecida, para pedir proteção, antes de uma partida decisiva com o rival Corinthians. Desenhou a Padroeira do Brasil com a cara do Pelé. Uma multidão de religiosos cercou a porta do jornal Última Hora de São Paulo, que teve que encerrar o expediente por um bom tempo. Otávio foi demitido e teve que pedir proteção policial. No entanto, Henfil, outro grande cartunista, fez dos Fradinhos o ápice da escatologia e libertinagem com o pano de fundo religioso, não recebendo o mesmo tratamento do caso acontecido com Otávio. A diferença é que Otávio quis homenagear Pelé como uma instituição nacional, quase um Deus, mas atingiu a cultura religiosa de um país essencialmente católico. Já, Henfil, foi viceral contra a ditadura e acertou em demonstrar que todos os meios de resistência eram válidos para esse fim. Foi aceito como um inquisidor dos métodos do poder militar com apoio dos religiosos de plantão. Dois acontecimentos que retratam o “risco de cálculo” do cartunista em seu trabalho. Em nosso documentário “ Pasquim, a Revolução pelo cartum” ( Jal & Gual -TV Sesc/Senac- 1999 ) Millôr nos coloca que “quando algum assunto cai nas mãos dos cartunistas não há mais salvação”. O personagem ou assunto tratado se estigmatizará. O poder da charge cria e destrói ícones com seu simbolismo exacerbado. A função do humor é questionar o poder a todo momento. Por isso é altamente revolucionário. Quando Chaplin  fazia de bobo um guarda de rua, em seus filmes, sabia que ridicularizar o poder descontrai o ser humano e o faz rir. Portanto o humor veio para contrapor regras sociais, questioná-las e descontrair.
Então o que realmente está acontecendo com as charges sobre o profeta Muhammad publicadas por um jornal de tendência direitista da Dinamarca? Até que ponto os chargistas foram usados numa clara provocação política? Podemos começar analisando que existe uma grande comunidade islâmica na Dinamarca e que isso vem incomodando aos nacionalistas mais ferrenhos. Esse seria, de imediato, o alvo das 12 charges publicadas. Algo como que questionar o próprio governo das regalias dadas aos imigrantes indesejados em contraposição ao ódio que acham receber em troca. Isso é mais evidente depois que um dos cartunistas das charges “malditas” declarou que não sabia direito sobre o que desenhava.


Miraram o torpedo para um caso interno mas a bomba caiu muito além das fronteiras, internacionalizando o conflito Ocidente-Oriente alimentado pelas constantes guerras na região. Um erro de cálculo que passou pela direção do jornal até os pincéis dos artistas.
Se a idéia era passar o recado de que correntes islâmicas usam do Alcorão para impor um sistema de resistência através da violência de homens-bomba, o mais eficiente seria colocar o profeta ao lado da não-violência e não rasteiramente desenhado com uma bomba na cabeça. O islâmico vê antes a agressão à sua religião e não capta a crítica à dita guerra santa. Portanto as charges exacerbam os ânimos ao invés de convidar à uma reflexão além da briga entre culturas. Pela lei islâmica não se pode nem desenhar o profeta? Bem, existem várias  formas de colocar seu pensamento sem que ofenda diretamente uma cultura onde religião e política são uma coisa só.


O que tem faltado às diversas páginas e tempo gastos na imprensa sobre esse caso é uma necessária discussão sobre o real papel da charge nisso tudo. Houve casos de jornais na TV que um dia denominavam as charges de “caricaturas contra Maomé” e no dia seguinte eram denominadas de “quadrinhos sobre Maomé”. Uma vergonha para quem fez uma faculdade de jornalismo e nem sabe o que é charge. Palavra vinda do francês, charge quer dizer “ carga”. Uma carga sobre um assunto factual e jornalístico. O que realmente faltou na imprensa era, ao menos, informar sobre a linguagem da charge e até entrevistar chargistas sobre o questionamento da liberdade de imprensa versus a linguagem corrosiva do desenho de humor. Não vi nada disso levado à fundo.
O chargista é uma espécie de termômetro do que a população das ruas pensa e reclama. Ao mesmo tempo influencia outros tantos pois tem 100% de leitura pela linguagem sucinta e direta que usa em seu trabalho.
Desde o início de sua produção no século 18, os chargistas sempre estiveram defendendo os miseráveis, a população carente e fustigando o poder. Convencionou-se dizer que não existe charge à favor, ou charge oficial. O caso da Dinamarca nos mostra que sempre que uma charge é contra algo é conseqüentemente à favor de outra opção. Mesmo que seja a oficial, como no caso.


A responsabilidade de jornalistas e chargistas sobre questões que envolvam conflitos tão complicados em sua dimensão fica maior pelo poder da comunicação moderna e suas facilidades em ganhar o mundo em um minuto. Hoje, pela Internet, pode se chegar de uma forma ou de outra até em países que tentam impor barreiras, como os islâmicos. É a globalização até do humor invadindo tudo sem pedir licença. Da mesma forma é errado pensar que os islâmicos não tem humor. Por incrível que pareça, o Irã tem vários Salões de Humor e várias revistas de sátira. Era de se esperar a resposta, ao acontecido, vinda desse país criando um concurso de charges questionando a veracidade do Holocausto. Se houver derramamento de nankim ao invés de sangue, tudo bem. Mas não é o que estamos presenciando com várias mortes nas manifestações que se sucederam até agora.
Uma coisa é certa. Num mundo onde a comunicação cada vez mais se volta para o visual, a charge se torna ponto forte, mais do que nunca, dentro do jornalismo responsável.


José Alberto Lovetro ( JAL)
Jornalista/cartunista

A ARTE DA DEFORMAÇÃO


A ARTE DA DEFORMAÇÃO 

Qual o segredo dessa arte quase primitiva, capaz de sobreviver na era da imagem – da foto, do cinema e da televisão? Por que ela continua mais corrosiva do que o realismo da fotografia, ela que é a arte da deformação?
 Que força é essa que tem a caricatura que, na era da tecnologia, continua precisando apenas da ponta de um lápis – e de toda a liberdade do mundo?
Há várias razões, mas uma certamente está no fato de que a caricatura, ao contrário do que parece, é a arte de revelar não só a cara, mas também o caráter das pessoas, não o que está evidente, mas o detalhe que, de tanto ver, não se percebia. É sempre um trabalho revelador: o óbvio estava ali, mas ninguém notava. Foi preciso exagerar o traço, enfatizar uma linha, acentuar um contorno do rosto para então se descobrir o ridículo: pode ser a boca mole do ex-presidente ou as orelhas de abano de um ex-líder oposicionista ou de qualquer figura institucionalizada.
Mesmo no país em que os poderosos costumam ficar impunes, a caricatura não os deixa imunes. Por isso, ela é dos gêneros mais censurados pelas ditaduras. Defende-se de uma noticia, responde-se a um artigo, mas como desmentir uma charge?
O país pode não gostar de mostrar sua cara, não tem importância: a caricatura mostra.
Zuenir Ventura

         

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

MMA


Coronel Bacabão

Vamos ser justos com o Coronel Bacabão: das 70 promessas assinadas em cartório, em 2012, e repetidas na televisão durante 90 dias, ele cumpriu uma (inaugurou o Mercadão Municipal. Mas quem reformou foi Serafim, 40%, e Amazonino, 60%), fez outra pela metade (retirou das ruas os camelô localizados entre a Sete de Setembro e a Ramos Ferreira. Nas outras ruas – Marechal Deodoro, Guilherme Moreira, etc, o inferno continua) e começou outras quatro:
1. Fez 278 casas das 10 mil prometidas.
2. Fez a ciclovia do Boulevard Amazonas – tudo bem que foi só uma pintura no passeio público.
3. Fez o recapeamento asfáltico de 200 km (A malha viária de Manaus tem 4 mil km...).
4. Fez 15 mil ligações domiciliares – das 40 mil prometidas – ao sistema de água da Proama.
Ah, sim, foi o Coronel Bacabão também que inaugurou o Proama... Inaugurou, porra! Quem construiu e fez a rede de distribuição para 100 mil famílias foi o Governo do Estado.
Se alguém souber qual foi outra promessa cumprida, me corrija! Vamos ser justos!... Kkkkkkkkkk
Simão Pessoa

Meu Cantinho

Entre as novas promessas do Coronel Bacaba está a construção do "Meu Cantinho", uma casa de passagem para mulheres que apanharam dos maridos... Eu morro e não vejo tudo... Kkkkkk
Simão Pessoa