sexta-feira, 31 de agosto de 2018

A ARTE DA DEFORMAÇÃO


A ARTE DA DEFORMAÇÃO 

Qual o segredo dessa arte quase primitiva, capaz de sobreviver na era da imagem – da foto, do cinema e da televisão? Por que ela continua mais corrosiva do que o realismo da fotografia, ela que é a arte da deformação?
 Que força é essa que tem a caricatura que, na era da tecnologia, continua precisando apenas da ponta de um lápis – e de toda a liberdade do mundo?
Há várias razões, mas uma certamente está no fato de que a caricatura, ao contrário do que parece, é a arte de revelar não só a cara, mas também o caráter das pessoas, não o que está evidente, mas o detalhe que, de tanto ver, não se percebia. É sempre um trabalho revelador: o óbvio estava ali, mas ninguém notava. Foi preciso exagerar o traço, enfatizar uma linha, acentuar um contorno do rosto para então se descobrir o ridículo: pode ser a boca mole do ex-presidente ou as orelhas de abano de um ex-líder oposicionista ou de qualquer figura institucionalizada.
Mesmo no país em que os poderosos costumam ficar impunes, a caricatura não os deixa imunes. Por isso, ela é dos gêneros mais censurados pelas ditaduras. Defende-se de uma noticia, responde-se a um artigo, mas como desmentir uma charge?
O país pode não gostar de mostrar sua cara, não tem importância: a caricatura mostra.
Zuenir Ventura

         

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